O Grande Monstro
Por Matheus Vieira
Que todos nós temos nossos defeitos é fato. É certo que não
existe ninguém perfeito. O que poucos sabem é que entre os defeitos, há sempre
um defeito-chefe, quase um monstro, que fica escondido num lugar que Freud
chamou de Inconsciente. Não temos acesso a ele. Ao menos não facilmente.
Como chefe, ele ordena de seu lugar protegido, para seus
súditos nos importunarem no nosso cotidiano. Somos mais nervosos que o normal,
mais estressados, mais ciumentos, mais falantes, mais mentirosos, mais arrogantes...
Esses são defeitos menores que normalmente agem a mando do monstro. Combater os
defeitos menores é como prender os bandidos pequenos e não o chefe da quadrilha
- como combater o sintoma, e não a causa.
Embora o defeito-chefe esteja protegido pelo inconsciente,
ele muitas vezes dá o ar de sua graça, dando oportunidade para a pessoa lidar
com ele. Enfrentando o grande monstro, os pequenos se dissipam. Dizendo assim,
podemos pensar que seja fácil: ele aparece e o enfrentamos: problema resolvido!
Entretanto não é tão simples. Tenho percebido que, ao
encontrar seu monstro as pessoas tendem a ter três tipos de reações. Uma delas é a desistência. É como se a pessoa
se rendesse ao seu defeito e dissesse: “ok, você venceu. Você é forte demais
para eu combate-lo”.
Felizmente esse pensamento derrotista não é tão comum entre
as pessoas. Infelizmente o segundo tipo de reação é o que predomina na
sociedade: a negação e anestesia.
Como assim? Me explico. Diante do monstro, as pessoas viram
o rosto para outro lado e se enganam de maneira que nem desistem do confronto,
mas não o enfrentam. Nesse grupo de pessoas temos aqueles que recorrem às
bebidas e drogas (casos clássicos) mas também aqueles que fogem do monstro
dedicando-se integralmente ao trabalho ou a alguma atividade. É como se a
pessoa dissesse: “não tenho tempo para entender e enfrentar o monstro, tenho
outras coisas mais importantes para fazer”. O efeito anestésico é justamente
esse: a dor ainda está lá, o monstro ainda está lá; mas busca-se artifícios
para não se perceber aquilo que está incomodando.
Por último, e mais importante, está o grupo de pessoas que
decidem enfrentar o monstro. Esse grupo é uma pequena e remota minoria. Elas
sabem que o embate tende a ser difícil. Lidar com o monstro interior é lidar
com o que há de pior dentro da gente mesmo. Todavia, essa é a maneira que
existe para se tornar uma pessoa melhor. Uma vez que o monstro é parte da gente
mesmo, não conseguimos “mata-lo” ou ”exorcizá-lo”, mas podemos fazer as pazes
com ele, de maneira que ele não nos prejudique na vida.
Uma vez que o monstro não é mais assustador, ele não aciona
mais seus capangas e assim, temos uma vida melhor, em paz com a gente mesmo!
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