A criança e/é os pais
Por Matheus Vieira
Tenho percebido um grande aumento
de reclamações por parte dos pais a respeito de seus filhos. Enganam-se aqueles
que acham que vou falar de drogas ou festas em excesso. Vejo muitos pais
queixando-se dos filhos por que eles só ficam dentro de casa, mexendo no
computador, videogame ou assistindo televisão; dizem ainda que seus filhos não
têm amigos, são sozinhos e introspectivos.
Pais me procuram, seja na clínica
em que atuo, em projetos desenvolvidos em escolas ou até
mesmo quando estou caminhando pela calçada, desesperados com a apatia, ou mesmo
“falta de vida” dos filhos. O que esses pais não sabem é que muitas vezes (para
não dizer a grande maioria) os jovens desenvolvem comportamentos reativos aos
pais. O que é isso? Eles reagem, desenvolvem seu “jeito de ser” a partir dos
pais.
Vamos pensar assim: quem
apresenta o mundo para as crianças são, prioritariamente, os pais. A partir
dessa relação é que a criança vai construindo sua noção de mundo: o que é bom,
o que é ruim, como se portar em determinada situação e por aí vai...
E o que percebi nesses pais? Que
todos eles eram/são extremamente superprotetores. De alguma forma todos eles ensinaram seus
filhos que o mundo é perigoso, que as pessoas são perigosas e que há males em
todas as esquinas. Dessa maneira é fácil entender porque eles têm dificuldades
de fazer amizades e saírem de casa. Os pais lhes ensinaram que ficar em casa é
mais seguro.
Percebam que enquanto as crianças
cresciam, os pais as deixavam sempre “debaixo da asa”, colocando os filhos
dentro de uma bolha protetora. Depois que crescem e atingem a adolescência e
juventude, os pais esperam que magicamente tudo mude. Esquecem que não há
magia. Ao menos não nesse caso! O viver, crescer, aprender, amadurecer é um
processo contínuo, gradativo de construção, desconstrução e reconstrução de
valores.
Se o que foi construído para os
jovens foi um mundo perigoso, onde todos são maus de alguma maneira e eles (os
filhos) são pobres vítimas indefesas, claro que eles preferirão o conforto de
suas casas e vão manter suas amizades pelas redes sociais da internet. Não é
complicado entender que eles têm medo do mundo que o espera fora de casa.
Sei que nem todos os casos são
assim. Alguns pais que me procuraram diziam que os filhos ficam muito dentro de
casa, mas porque comparavam seus filhos com as crianças de décadas passadas. A
sociedade mudou e com ela alguns hábitos. Atualmente é mais raro encontrar
crianças brincando na rua como antigamente. Esperar que os filhos ajam como os
pais quando eram mais novos é um erro ingênuo. Nesses casos, os jovens não
tinham “medo da vida”; apenas estão sendo jovens nos dias de hoje.
Caso você, pai ou mãe, ache que
seu filho tem algum problema, investigue em você mesmo se a semente desse
problema não foi você que plantou!
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