sexta-feira, 10 de maio de 2013

O que é traição?



O que é traição?
Matheus Vieira

Muitos se perguntam: o que é o amor? E nessa pergunta fica fácil inserir outras como: qual o limite do amor? Até onde pode ir quem ama? E aí chegamos ao tema do texto: o que é traição?

Se pensarmos na antiguidade, na época das famosas orgias romanas, podemos entender que traição não era algo carnal. O casal se entregava aos prazeres físicos em grandes festas hedônicas e nem por isso havia problemas com o casal. Muitas vezes apenas um deles ia a essas festas e tudo bem! Na antiga Grécia não era diferente. Podemos pensar que nesse contexto, não havia problemas da pessoa amada estar com outra pessoa, desde que ainda haja sentimento recíproco.

Por outro lado, se olharmos no contexto do amor romântico, no final do século XVIII, do “para sempre juntos até que a morte nos separe” percebemos que todo toque, olhar ou palavra trocada de maneira lasciva é motivo para desconfiança, para crer que não se é mais amado. Como disse Rubem Alves em seu texto “O Pássaro Encantado”: queremos ter o voo do pássaro e para isso o prendemos numa gaiola. O que insistimos em não ver é que pássaro engaiolado não voa! Nesse modelo do amor romântico o “estar junto só comigo” é mais importante que o sentimento. É como se disséssemos “tudo bem se você não gostar tanto de mim, o que importa é que eu gosto de você e você está só comigo”. Estar junto passa a ser sinônimo de amor. (Ter o pássaro preso é ter o vôo do pássaro?)

Muito bem, temos duas situações: é (ou era) possível estar com outras pessoas amando uma e é (ou era) possível permanecer junto com alguém mesmo que não haja sentimentos. Assistindo o filme “Apenas uma Noite” (2012) me aguçou a vontade de examinar mais de perto os aspectos da traição.
Correndo o risco de ser estraga-prazeres com quem não assistiu o filme, eis um breve resumo para justificar meu pensamento.

O marido de um casal já estabilizado, naquela época onde as certezas do amor já fazem parte do cotidiano, tem que fazer uma viagem de trabalho. Na viagem ele percebe que sua bela colega de trabalho está interessada nele. Cedendo seus impulsos, ele e sua colega acabam tendo uma noite intensa, que se transforma numa ressaca moral de arrependimento. Afinal, coitada da esposa que ficou sozinha, ele a ama e não poderia ter feito isso com ela! Percebam, ele esteve com outra mulher em uma noite de intensos prazeres, mas ainda amava a esposa – se não fosse assim, não haveria arrependimento.

Enquanto o marido viajava, a esposa, em suas atividades cotidianas, encontra um antigo namorado, um antigo amor. Enquanto o marido estava fora, o antigo casal fica junto, entretanto mais como amigo do que como namorados. Conversaram, riram, se divertiram e tiveram bons momentos um com o outro. Eles chegaram a dormir juntos, mas não aconteceu nada: a cumplicidade, o carinho e o respeito não deram espaço aos sentimentos carnais. Dormem cada um em seu lado na cama, com no máximo, um cafuné afetuoso. Percebam: não houve trocas carnais, mas houve trocas de emoções, sentimentos.

Assistir esse filme me fez pensar: quem traiu quem? Os dois se traíram? Enquanto um esteve com outra pessoa fisicamente, o outro esteve com outra pessoa emocionalmente, mentalmente – qual das duas situações é pior?

Confesso que não sei. A única conclusão que cheguei foi que a traição está estritamente ligada ao conceito que temos de relacionamento. Se trair é algo errado, é preciso ter claro quais são os limites do que é certo, ou voltando ao início do texto, “até onde pode ir quem ama”. Tendo isso claro, poderemos saber qual dos dois casos (ou outros que surgirem) configuram de fato a traição. Caso alguém conclua algo diferente, por favor compartilhe seus pensamentos nos comentários!

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